O medo coletivo após a posse do Trump (ou outro título melhor)
O mundo está parecendo um caos: guerras, pandemias, mudanças climáticas, ditaduras no poder e notícias estarrecedoras de violência. Parece que o mundo virou de cabeça para baixo. Tais incertezas instalam um sentimento de angústia que vai contaminando as pessoas e afetando a saúde física e mental coletiva, gerando o que chamamos de medo coletivo. Essa é uma emoção de defesa, que prepara o corpo para fugir ou lutar quando percebemos um perigo que ameaça à integridade. Essa defesa foi essencial na preservação da espécie na era primitiva, quando a luta pela sobrevivência era uma batalha diária.
Agora, o que acontece se um país sente medo coletivamente? Utilizando um exemplo atual, os norte-americanos democratas – e alguns republicanos arrependidos – estão com medo do governo Trump?
Nas redes sociais, observamos vídeos e posts de muitas pessoas acuadas nos Estados Unidos. A insegurança parece evidente. Existe uma ameaça coletiva no ar que ganha repercussão na internet, retroalimentando a insegurança. Isso gera estresse e/ou ansiedade e/ou depressão coletiva.
O que observa-se tecnicamente e sob o viés da psicologia é que, com o passar do tempo, o cérebro fica sobrecarregado e foca em eliminar ou fugir daquilo que localiza como sendo o causador da ameaça. Estando em fadiga, o organismo buscará localizar um alvo em que será depositado toda a responsabilidade pelo dano ou mal que está gerando o medo.
Nessa condição, a primeira ação é encontrar uma causa simples e direta (como se os problemas não fossem complexos, não é mesmo?) que gerou todos os problemas. Usualmente se elege um inimigo a ser combatido, não importa se é ou não é real, causador ou não do medo. Tudo serve para que o receio seja projetado para fora e diminua o mal estar opressor.
Seria todo democrata um potencial candidato a responsável pelo medo do futuro que os republicanos sentem? Possivelmente. E a dita extrema direita, seria também um foco? Provavelmente.
A segunda ação é encontrar um grupo que apoie a tese de que os direitistas e/ou conservadores são culpados por todos problemas. O grupo precisa ser formado por pessoas que também estejam com tanto medo que queiram “se livrar” dessa angústia custe o que custar. Mas pertencer a um grupo tem um preço: é preciso ser um igual em atitudes e pensamento, ou seja, aceitar as regras e os códigos de conduta porque quem for diferente corre o risco de ser expulso. Não importa se é verdade ou mentira. Por isso as pessoas passam a acreditar naquilo que lhe convém.
Assim nascem, inclusive, as bolhas na web, que mantêm as pessoas presas a um ponto de vista restrito. Assim nasce também a incapacidade do diálogo, o que inviabiliza a democracia.
O medo produz separação. O medo é o contrário da inteligência emocional e espiritual, porque abdica da auto responsabilidade pessoal e coletiva sobre as questões inerentes à vida. Ser contra um governo e/ou um governante que ameaça a democracia, dissemina notícias falsas e retira das pessoas sua segurança (estabilidade no trabalho, sistemas de saúde, entre outros) é natural. Agora, não estar aberto para entender o outro, por pior que pareça ou seja, pode significar o fim da democracia.
É preciso pensar, acolher e fazer a parte pessoal e intransferível na construção da resolução dos problemas. Isto é ser adulto. Pessoas maduras sentem medo. Contudo, elas percebem o medo e não ficam estagnadas nele. Elas procuram entender de onde vem o medo e qual é a sua parte na criação desse cenário ameaçador.
Só é possível superar o medo coletivo resgatando a esperança, refletindo profundamente sobre as situações postas e olhando para além das aparências. É não abrir mão da responsabilidade na solução das dificuldades e pôr-se em ação. É, em suma, pôr em ação a inteligência emocional e espiritual. É ter empatia e se colocar no lugar do outro para, no mínimo, entender seus medos e buscar o diálogo.