As religiões e os sonhos: o que dizem os budistas
Entenda como a interpretação do sonho pode variar em decorrência das causas pelas quais eles foram gerados.
Hoje vamos falar sobre o budismo que, segundo o censo brasileiro de 2010, conta com quase 250 mil praticantes no Brasil.
Como nas outras culturas religiosas, no budismo há pessoas que dizem conseguir interpretar sonhos. Porém, tais pessoas lucram explorando homens e mulheres que acreditam que cada sonho tenha um significado espiritual ou profético. A psicologia budista entende que sonhos são fenômenos criados pela mente. Todos os seres humanos sonham, embora algumas pessoas não consigam se lembrar. Para o budismo, alguns têm significado psicológico.
Em “No Que os Buddhistas Acreditam”, o monge budista K. Sri Dhammananda cita que o significado e a causa dos sonhos foram tema de discussões no livro ‘Milinda Panha’ (‘As Perguntas do Rei Milinda’). “Nele, o venerável Nagasena declarou haver seis causas para os sonhos, três sendo orgânicas (vento, bílis e fleuma); a quarta é devido à intervenção de forças sobrenaturais; a quinta, o reviver de experiências do passado; e a sexta, a tendência de eventos futuros. Das seis causas, Nagasena declarou positivamente que a última (os sonhos proféticos) são os únicos a ter importância e os demais são relativamente insignificantes.
Vamos detalhar em 4 tópicos como as causas se desenvolvem:
1. Cada pensamento único criado fica armazenado em nosso subconsciente. Porém, alguns deles influenciam fortemente a mente conforme as nossas ansiedades. Assim, quando dormimos, alguns pensamentos aparecem como ‘imagens’, aproveitando-se que a mente subconsciente está livre para resgatar os pensamentos estocados. Estes sonhos podem ter valor para a psiquiatria, mas não são proféticos.
2. O segundo tipo de sonho é causado por fatores internos (que perturbam o corpo, como uma refeição pesada) e externos (que perturbam a mente, como fenômenos naturais: vento, frio, chuva, barulho das folhas, janelas batendo) que disparam um curso de ‘pensamentos visuais’, os quais são percebidos pela mente em descanso. Nestes casos, a mente subconsciente reage aos estímulos criando imagens para explicá-los. Esses sonhos não têm importância nem precisam de interpretação.
3. Os sonhos proféticos são importantes, raros e só acontecem quando há um evento iminente de grande relevância para o sonhador. Quando algo importante está para acontecer, os devas ativam certas energias mentais em nossas mentes que, podem prevenir sobre um perigo iminente ou nos preparar para uma boa nova súbita. Essas mensagens são dadas em termos simbólicos (como negativos de fotos) e precisam ser interpretadas de maneira habilidosa e inteligente.
4. Há também os sonhos que se originam nas energias cármicas do passado acumuladas em nossa mente. Eles podem ocorrer quando um carma está para amadurecer: ou seja, quando a ação de uma vida prévia ou do começo de nossa vida está prestes a passar por sua reação. Para isso acontecer, é a ação iminente deve ser de grande importância e estar fortemente carregada para a mente ‘liberar’ a informação extra na forma de sonho vívido. Esses sonhos também são raros e acontecem apenas com pessoas com um tipo especial de estrutura mental.
A publicação também destaca que, enquanto todos os seres “mundanos” são sonhadores, os Buddhas e os Arahants nunca sonham: “os primeiros três tipos de sonho não podem ocorrer em suas mentes, porque elas foram permanentemente acalmadas; e o último tipo não acontece porque erradicaram completamente a energia do desejo e não há residual de ansiedade ou de anseio insatisfeito para ativar a mente em produzir sonhos”.
Aproximando a idéia budista da cultura ocidental, o livro cita que grandes artistas e pensadores, como Goethe, frequentemente citam que suas melhores inspirações viveram nos sonhos. Isso pode ter relação com o fato de que, como o sono é o momento em que suas mentes estão desligadas dos cinco sentidos, elas produzem pensamentos claros e criativos num alto grau.
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